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Redes subterrâneas e monitoramento digital: o que poderia evitar novos apagões em SP após chuvas e ventanias

Bairros de São Paulo tem falta de luz pelo terceiro dia seguido devido ao vendaval que atingiu a cidade. Na foto funcionários da Enel trabalhando na Rua Eça ...

Redes subterrâneas e monitoramento digital: o que poderia evitar novos apagões em SP após chuvas e ventanias
Redes subterrâneas e monitoramento digital: o que poderia evitar novos apagões em SP após chuvas e ventanias (Foto: Reprodução)

Bairros de São Paulo tem falta de luz pelo terceiro dia seguido devido ao vendaval que atingiu a cidade. Na foto funcionários da Enel trabalhando na Rua Eça de Queiroz, na Vila Mariana, nesta sexta feira (12). Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo A sequência de apagões registrada em São Paulo e na região metropolitana após a ventania histórica desta semana evidenciou que os impactos dos eventos climáticos extremos não decorrem apenas da força da natureza, mas também de escolhas estruturais da cidade. Na quarta-feira (10), rajadas de vento de até 96,3 km/h, as mais fortes já registradas na cidade sem a presença de chuva na história, derrubaram árvores, danificaram postes e deixaram mais de 2 milhões de imóveis sem luz. O vento começou pela manhã e se estendeu até a noite, algo considerado inédito, mas que ficará cada vez mais comum, segundo meteorologistas. Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que já existem tecnologias capazes de reduzir significativamente a duração e a extensão das quedas de energia, mas que elas ainda não são aplicadas de forma ampla na capital. Segundo o professor Celso Oliveira, do departamento de engenharia de biossistemas da USP, a principal solução estrutural para o problema é a substituição das redes aéreas por subterrâneas, especialmente em áreas densamente arborizadas. Prefeitura de SP não tem plano para lidar com apagões após eventos climáticos extremos, aponta relatório “Enquanto a rede estiver nos postes, o conflito com as árvores vai continuar existindo. A rede subterrânea elimina esse risco e permite ampliar a arborização da cidade sem comprometer o fornecimento de energia”, explica. A principal barreira para isso, segundo o especialista, não é técnica, mas econômica e regulatória. O custo da obra é elevado e envolve uma redefinição do modelo de concessão, já que as concessionárias também obtêm receita com o uso compartilhado dos postes por empresas de telefonia e internet. “Isso exige decisão política. Não é diferente do que foi feito com a rede de gás natural em São Paulo, que também demandou obras extensas e planejamento”, afirma. Ao g1, a Secretaria-Executiva de Mudanças Climáticas (Seclima) afirmou que, apesar de ser muito caro enterrar os fios, discute como melhorar a infraestrutura de distribuição de energia da cidade. Tecnologia Além da infraestrutura física, Oliveira destaca que a tecnologia atual permite monitorar a rede em tempo real, identificar com precisão o ponto da falha e realizar manobras remotamente, sem a necessidade de desligar bairros inteiros. “Hoje é possível saber exatamente onde ocorreu o problema e redirecionar a energia por outro caminho. Em muitos casos, daria para desligar apenas um quarteirão, e não uma rua inteira”, afirma. Esse tipo de sistema, conhecido como rede inteligente, permite criar redundância no fornecimento, garantindo que a energia chegue por rotas alternativas em regiões classificadas como de maior risco. Enquanto a adoção em larga escala de redes subterrâneas é uma solução de médio e longo prazo, especialistas afirmam haver medidas imediatas que poderiam reduzir os impactos dos apagões. Entre elas estão: uso de planos de contingência acionados com base em previsões meteorológicas; reforço de equipes antes da chegada de eventos extremos; manutenção de estoques de peças; poda técnica preventiva de árvores durante períodos de menor incidência de tempestades. “As concessionárias sabem, com dias de antecedência, quando o risco aumenta. A previsão nunca é perfeita, mas é suficientemente confiável para mobilizar equipes e reduzir o tempo de resposta”, diz Oliveira. O especialista ressalta que a responsabilidade não é apenas da concessionária. Cabe à Prefeitura de São Paulo manter equipes técnicas qualificadas para o manejo da arborização urbana e revisar normas urbanísticas que aumentem a resiliência da cidade. Árvore caiu na Praça da Árvore, na Zona Sul de SP. Arquivo pessoal Futuro da Enel Os episódios recentes acontecem em meio à discussão sobre o futuro da concessão da Enel em São Paulo, que termina em 2028. Para Oliveira, o problema não se resolve apenas com a troca da empresa, mas com planos bem estruturados, aprovados pelos órgãos reguladores e efetivamente fiscalizados. “A impressão é que não existe plano aprovado que permita deixar milhões de pessoas sem luz por dois ou três dias. Se isso está acontecendo, ou o plano não está sendo cumprido, ou a fiscalização falhou”, afirma Oliveira. Apesar de o prefeito Ricardo Nunes (MDB) defender a substituição da Enel por entender que a empresa não dá conta do serviço, a própria administração municipal não tem um plano específico para lidar com blecautes provocados por eventos extremos. Segundo o PlanClima, o Plano de Ação Climática da capital, criado em 2021 e atualizado anualmente, não há nenhuma diretriz que trate de como a cidade deve responder a apagões após temporais, vendavais ou ondas de calor. O documento estabelece metas até 2050 e menciona ações como aprimorar alertas de tempestades e rever protocolos de mobilidade, mas não aborda os impactos na infraestrutura de distribuição de energia. O relatório mais recente da Secretaria-Executiva de Mudanças Climáticas (Seclima) lista 11 ações em andamento na categoria “adaptar a cidade de hoje para o amanhã” — nenhuma delas ligada à proteção ou modernização da rede elétrica. À TV Globo, o secretário-executivo de mudanças climáticas de São Paulo, José Renato Nalini, reconheceu que o tema deveria estar no PlanClima. "Há um projeto, é intenção da prefeitura é insistir nisso, porque é uma questão de segurança. Os cientistas nos alertaram durante décadas e nós não prestamos atenção. Agora quem tem a palavra é a natureza, e ela está muito ressentida." O que diz a Enel Em nota, a Enel São Paulo afirmou que reforçou a preparação para a próxima estação de verão com a contratação e o treinamento de 1.200 novos profissionais — número que deve aumentar com outras 400 admissões ainda neste ano —, além da capacitação de 124 eletricistas motociclistas para agilizar atendimentos. "A concessionária também informou a ampliação da frota com mais de 225 veículos, a manutenção de 700 geradores, que formariam a maior frota da América Latina, e a criação de quatro centros de despacho descentralizados. Segundo a empresa, quatro novas bases operacionais serão abertas até o fim de novembro, somando-se às 17 já existentes, e foram realizadas 448 mil podas preventivas até setembro, com previsão de ultrapassar 600 mil até o final do ano."

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